ATA DA DÉCIMA PRIMEIRA SESSÃO SOLENE DA TERCEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA PRIMEIRA LEGISLATURA, EM 06.06.1995.
Aos seis dias
do mês de junho do ano de mil novecentos e noventa e cinco reuniu-se, na Sala
de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às
dezessete horas e vinte e cinco minutos, constatada a existência de
"quorum", o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da
presente Sessão, destinada à entrega do Prêmio Literário "Érico Veríssimo"
ao Senhor José Otávio D’Ávila Bertaso, conforme Requerimento nº 33/94 (Processo
nº 1433/94), de autoria do Vereador Antonio
Hohlfeldt. Compuseram a Mesa: Vereador Airto Ferronato, Presidente da
Câmara Municipal de Porto Alegre, Irmão Elvo Clemente, Presidente do Conselho
Estadual de Cultura e representante da Pontifícia Universidade Católica,
Jornalista Firmino Cardoso, representante da Associação Riograndense de
Imprensa, Senhor José Otávio D’Ávila Bertaso, Homenageado, Senhora Edda de
Escobar Bertaso, esposa do Homenageado, Vereador Clóvis Ilgenfritz, 1º
Secretário da Casa. Ainda, como extensão da Mesa, o Senhor Presidente registrou
as presenças, no Plenário, da Senhora Eliana Sá, representante da Editora Globo
S.A., da Senhora Tânia Ayub, representante do Instituto Cultural Americano, do
Senhor Hugo Filipino, representante da Companhia União de Seguros, da Senhora
Antonieta Barone, representante da Aliança Francesa, e de representantes do
Acervo Literário Érico Veríssimo. A seguir, o Senhor Presidente convidou a todos
para, de pé, ouvirem a execução do Hino Nacional e, após, concedeu a palavra
aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador Antonio Hohlfeldt, em
nome das Bancadas do PSDB, PDT, PMDB, PTB e PP, lembrou a época da criação do
Prêmio Literário Érico Veríssimo, dizendo objetivar ele o agradecimento da
Cidade àquelas pessoas que se dedicam à criação e divulgação cultural. O Ver.
Clóvis Ilgenfritz, em nome das Bancadas do PT e do PPS, estendeu a presente
homenagem a toda a família Bertaso, declarando serem as Organizações Globo,
mais do que um orgulho para Porto Alegre, um patrimônio político da democracia
no País. O Vereador Reginaldo Pujol, em nome das Bancadas do PFL e do PPR,
saudou o Homenageado, salientando a
justeza do Prêmio hoje entregue e discorrendo sobre a relação forte existente
entre a obra literária de Érico Veríssimo e a obra empresarial e cultural da
Editora Globo. Em prosseguimento, o Senhor Presidente concedeu a palavra ao
Jornalista Firmino Sá Brito Cardoso, que cumprimentou o Senhor José Otávio
D’Ávila Bertaso, lembrando convivência mantida com o pai do homenageado e com o
escritor Érico Veríssimo, quando funcionário da Editora Globo. A seguir, o
Senhor Presidente convidou a todos para, de pé, assistirem à entrega, pelo
Vereador Antonio Hohlfeldt, do Prêmio Literário Érico Veríssimo ao Senhor José
Otávio D’Ávila Bertaso e, em continuidade, concedeu a palavra a Senhora Edda de
Escobar Bertaso que, em nome do Homenageado, agradeceu o Prêmio concedido pela
Casa. A seguir, o Senhor Presidente agradeceu a presença de todos e, nada mais
havendo a tratar, declarou encerrados os trabalhos às dezoito horas e vinte e
cinco minutos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de
amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador Airto
Ferronato e secretariados pelo Vereador Clóvis Ilgenfritz. Do que eu, Clóvis
Ilgenfritz, 1º Secretário, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após
distribuída em avulsos e aprovada, será assinada por mim e pelo Senhor Presidente.
(Obs.: A Ata digitada nos Anais é cópia fiel do documento original.)
O SR. PRESIDENTE (Airto
Ferronato):
Esta Sessão Solene é destinada a conceder o Prêmio Literário Érico Veríssimo ao
Sr. José Otávio D’Ávila Bertaso, por proposição do Ver. Antonio Hohlfeldt, que
teve a aprovação unânime desta Casa.
Esta Sessão se reveste da maior importância na medida em que o nosso
homenageado é o Sr. José Bertaso. Falar em Bertaso é falar em Livraria do
Globo, que se confunde com a própria
história de Porto Alegre.
A distinção que ora conferimos a este dinâmico editor leva o nome de
Érico Veríssimo, que neste gesto homenageia José Otávio Bertaso por legado
deixado por seu pai e brilhantemente conduzido pelo filho para a cultura do
nosso Estado. Pretende esta homenagem reconhecer o talento deste editor que
soube adequar o perfil de sua tradicional empresa aos desafios da atualidade.
Fazem parte da Mesa nesta Sessão: Irmão Elvo Clemente, Presidente do
Conselho Estadual de Cultura e representante da PUC; Jornalista Firmino
Cardoso, representante da ARI; Sr. José Otávio D'Ávila Bertaso, nosso
homenageado; Sra. Edda de Escobar Bertaso, esposa do nosso homenageado.
Como extensão da Mesa, citamos a presença da Sra. Eliana Sá,
representante da Editora Globo S.A.; da Sra. Tânia Ayub, representante do
Instituto Cultural Americano; do Sr. Hugo Filipino, representante da Companhia
União de Seguros; da Sra. Antonieta Barone, representante da Aliança Francesa;
e de representantes do Acervo Literário Érico Veríssimo.
Convidamos a todos os presentes para que, de pé, ouçamos a execução do
Hino Nacional.
(É executado
o Hino Nacional.)
O Ver. Antonio Hohlfeldt está com a palavra como proponente desta
Sessão e falará, também, pelas Bancadas do PSDB, PDT, PMDB, PTB e PP.
O SR. ANTONIO HOHLFELDT: Exmo. Sr. Presidente. (Saúda
os demais componentes da Mesa.) Quiseram os companheiros do PDT, PMDB, PTB e do
PP, além da própria representação que eu trago do PSDB, que eu falasse nesta
Sessão em homenagem a José Otávio, e eu diria: mais do que apenas homenagem a
um indivíduo, a um cidadão, a uma pessoa, uma homenagem de reconhecimento que
esta Casa faz em nome, certamente, de milhares e milhares de pessoas por todo o
País, e talvez fora do Brasil, que tiveram a oportunidade, em determinado
momento, de ter em mãos um livro da Editora Globo.
A Câmara de Vereadores de Porto Alegre tem instituído, ao longo dos
últimos anos, uma série de premiações e distintivos culturais de reconhecimento
a personalidades, sobretudo do Rio Grande do Sul, e o Prêmio Érico Veríssimo é,
inclusive, o nosso prêmio mais antigo. Eu me lembro, José Otávio, que eu não
tinha sequer idéia de que algum dia viria eventualmente a ser Vereador desta
Cidade - portanto, já se vai muito tempo. Eu era apenas um jornalista da Caldas
Júnior, no "Correio do Povo", quando um Vereador desta Casa, o Ver.
Valdir Fraga, havia feito um encaminhamento do primeiro Prêmio Érico Veríssimo,
que foi dirigido ao poeta Carlos Nejar. Então me chamou a atenção que a Câmara,
de repente, não tratava apenas das questões político-partidárias da Cidade, mas
eventualmente se lembrava do campo da cultura. Por isso, quando, a partir de
1982, por designação da população de Porto Alegre, assumi uma cadeira neste
Plenário, decidi que, mais do que o Prêmio Érico Veríssimo, teríamos que ter
outras premiações. Por exemplo, no campo do teatro, e fui secundado por outros
companheiros, depois no campo das artes plásticas, no campo da música, no campo
do próprio jornalismo. Hoje nós temos um conjunto de prêmios que não são
vultosos, que não são grandes destaques, mas é a nossa maneira, humilde talvez,
mas objetiva, de dizer "obrigado" às pessoas que dedicam a vida nesta
Cidade, neste Estado, e às vezes até neste País, às questões da cultura.
No caso de José Otávio, que hoje nós homenageamos formalmente com a
entrega desse Prêmio Érico Veríssimo, se mais nada bastasse, bastaria
evidentemente o fato de ter sido a Globo a editora de Érico Veríssimo,
exatamente daquele escritor que é o grande escritor de representação do Rio
Grande do Sul e que empresta o seu nome ao próprio prêmio. Mas, na verdade,
José Otávio tem muito mais a ter de agradecimento da nossa parte.
Pessoalmente, eu não sei se aqui falo mais, José Otávio, enquanto
Vereador ou enquanto aquele que, ainda adolescente, iniciando profissionalmente
na área das Letras, como jornalista, ou eventualmente escritor, sonhava com uma
longa carreira, lá na Globo, e encontrou junto a José Otávio, como tantos
outros de tantas gerações, uma oportunidade e uma valorização de mostrar a sua
eventual capacidade.
José Otávio foi uma figura extremamente importante para a Globo, porque
nós tivemos uma Editora Globo de destaque nacional, e eu diria internacional
nos anos 40 e 50, quando a Biblioteca dos Séculos fez aquela considerada a melhor
tradução de Balzac em todo o mundo, com a participação de tradutores de
primeira linha, como Drumond de Andrade, Manoel Bandeira, Mário Quintana, o
próprio Érico e tantos outros. A Globo, depois, sofreu os desafios quando os
novos parques industriais gráficos surgiram no Brasil. A partir dos anos 60, a
Globo teve que encontrar novos caminhos, dar saltos, adaptar-se, competir,
porque essa era a regra, e aí surge, com destaque, a figura de José Otávio. Há
histórias que todos nós conhecemos, que o próprio José Otávio recorda em seu
livro "A Globo da Rua da Praia", daquelas gerações que nos anos 30
passavam pelo prédio da ex-Barcelos, depois Bertaso, quando Mansueto Bernardes
lá estava, ou depois, quando Érico Veríssimo lá esteve, que era referencial
obrigatório não apenas do universo literário, mas também da fofoca política e
econômica, porque por ali, de uma certa maneira, passava toda a vida da
província, talvez num outro espírito, num outro clima, talvez mais recatado,
mais comedido, mais fechado. Num outro lugar, inclusive, não só na Rua da
Praia, como, de resto, na Getúlio Vargas, lá estava o José Otávio dando um
outro salto de qualidade e novamente interferindo nas coisas da editoração do
Rio Grande do Sul.
Foi graças a José Otávio, por exemplo, que a Globo passou a destacar do
seu acervo alguns autores e algumas partes de livros desses autores que tinham
maiores possibilidades não só comerciais como de utilização pedagógica em sala
de aula. Foi dele a idéia, por exemplo, da "Coleção paradidática",
livrinhos de bolso de capinha amarela em que vinham excertos, retiradas de
textos, por exemplo, dos grandes romances do Érico, da poesia de Mário
Quintana. Eu fiz duas ou três dessas obras com as fichas. Inclusive, com as
fichas, nós procurávamos provocar o aluno a pensar e não agir mecanicamente em
relação ao texto literário.
José comprou a briga da Enciclopédia Globo: reeditou, por exemplo, a
coleção de "Vidas Notáveis", revisou a edição de Proust, editou toda
a obra do Proust naqueles volumes que ainda hoje encantam a todos nós.
Revitalizou coleções, inclusive dando-lhes capas duras, para entrarem num
mercado que mudava aqui no Brasil. Introduziu nova bibliografia no campo da
pedagogia, sobretudo de autores norte-americanos que então passavam a se tornar
textos obrigatórios nas nossas Faculdades de Educação. Houve uma aventura
fantástica: muitos dos que estão na sala hoje têm necessariamente que lembrar,
com toda a certeza, a Profa. Maria da Glória Bordini, porque faz parte da
equipe, mais ou menos direta ou indiretamente, Profa. Nora Tiling, porque
estavam na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, no Instituto de Letras, e
eu, que de repente entrava novato no curso, acabei caindo nas garras desses
professores terríveis e desse editor que teve a coragem de inventar uma coleção
de Teoria de Literatura com a tradução de alguns textos clássicos que só se
lia, até então, nos idiomas originais. Ivo Richters, a teoria dos formalistas
russos, Forster, Todorov Mendelov, Barth, Ingarden, entre alguns nomes. Livros
que, com toda a certeza, todo mundo dizia: - "Não vão vender nunca; é o
maior ‘entupe’ da paróquia; a editora quebra." Ainda por cima, com
tradutores que ninguém sabia, de um modo geral, de onde tinham saído, porque
eram pobres coitados, estudantes que tinham acabado de entrar na Faculdade.
Parece que José Otávio adivinhou que alguns deles se tornariam nomes de
referências, logo depois, na área da crítica em todo o Brasil: Flávio Aguiar,
que hoje está na USP; Flávio Loureiro Chaves; Luís Artur Nunes, diretor de
teatro, hoje no Rio; a própria Maria da Glória; eu tive a sorte de entrar num
desses volumes; a Regina Zilbermann, Coordenadora do Mestrado e Doutorado na
PUC; enfim, uma equipe que, de repente, aprendeu a trabalhar em conjunto e foi
trazendo para o idioma português coisas de que, até então, não dispúnhamos.
Incrível, faz 25 anos e esses livros continuam vendendo, continuam a referência
bibliográfica obrigatória de todos cursos de Letras.
Vejam que é interessante: um escritor e um editor acabam decidindo
coisas e cometendo atos na vida dos quais, certamente, a gente não tem a mínima
imagem do que vai deflagrar depois e vai ter como conseqüência. Por culpa
desses atos é que José Otávio foi instado a comparecer nesta Casa hoje para
receber esta homenagem por decisão do Plenário da Câmara de Vereadores de Porto
Alegre.
Quero ainda destacar um outro lado, que foi da Globo, mas que teve
sempre a mão do José Otávio. Houve um certo momento em que não se fez
programação cultural em Porto Alegre - da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre,
do Theatro São Pedro, do Museu de Arte do Rio Grande do Sul ou de outras
instituições - em que a Globo não entrasse, gratuitamente, com o impresso do
programa. A publicidade de suas obras era só desculpa para não dizer que dava de
graça, mas imprimir o programa com dados técnicos sobre o programa a ser
interpretado pela OSPA ou sobre exposições que o Museu de Artes fazia no
período dos anos 70 até os anos 80 foi também o lado da contribuição da Globo,
pela mão do José Otávio, extremamente importante. Eu me lembro do José Otávio,
lá no prédio da Getúlio Vargas. Quantas e quantas vezes muitos de nós subimos
aquele elevador de carga imenso e ficávamos perdidos com medo que aparecessem
fantasmas de escritores ou personagens durante a subida rapidíssima daquele
elevador - um metro por minuto - até o 3º andar do prédio, para sentarmos e
discutirmos, eventualmente, as novas capas que o Leonardo Mena Barreto e a
Maria da Glória inventavam, ao que o José Otávio dizia "amém", porque
renovava todo o visual do livro da Globo que iria para a vitrina da Rua da
Praia e garantia a repercussão da obra, independentemente da qualidade do
texto.
Acho, José Otávio, que a maior aventura que cometeste foi aquela do
último romance do Érico Veríssimo. Com essa, realmente, mais alguns fios de
cabelo tu perdeste. Quando Érico lançou "Incidente em Antares", toda
aquela tensão: o que a milicada vai fazer com o livro? Afinal de contas, era
uma crítica forte à ditadura militar, sobretudo naquele final provocante do
Érico, em que o menino está lá a ler a palavra "liberdade", que é
interrompida no final da narrativa. O José Otávio, sutilmente, mandou fazer uma
tira vermelha - isso em 1971 - com letrinhas brancas, sobre a capa do
"Incidente em Antares", e mandou imprimir assim, em todas as centenas
e milhares de exemplares publicados pelo Érico: "Num país com ditadura
esse livro não seria editado." Aí, o pessoal engoliu - para a nossa
felicidade, evidentemente.
Relembro isso porque estava de malas prontas, saindo do Brasil. Naquele
momento, estava indo para o Canadá, onde ficaria mais ou menos um ano
trabalhando. Levei meu "Incidente em Antares" debaixo do braço,
porque muitas vezes a gente saía e não sabia se voltava. Para mim era uma força
muito grande o livro do Érico e a coragem de editores como o nosso José Otávio,
que não tinham aberto mão, em nenhum momento, de continuar registrando as
idéias e os debates que eram fundamentais para o Brasil.
Então, por tudo isso, em meu nome pessoal e em nome do PSDB e dos
companheiros das demais bancadas que pediram que os representassem aqui, e
sobretudo, José Otávio, em nome de todos aqueles leitores de um livro da Globo
- que tu não conhecesses, mas que eles te conhecem, certamente -, nosso
agradecimento e a expectativa de que ainda tu tens muita coisa a fazer em Porto
Alegre, talvez menos como editor, mas,
com toda a certeza, muito como cidadão desta Cidade, ao lado da Dona Edda.
Portanto, a nossa homenagem nesta Casa. Certamente, é a Câmara de Porto Alegre
que se sente engrandecida em poder te homenagear hoje, aqui, e por isso o nosso
agradecimento por esta possibilidade de te colocarmos no acervo, na galeria
do Legislativo de Porto Alegre. Muito
obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Clovis
Ilgenfritz, que falará em nome da sua Bancada, o PT. Nós registramos, também, a
presença do Ver. Pedro Américo Leal.
O SR. CLOVIS ILGENFRITZ: Sr. Presidente, Srs.
Vereadores. (Saúda os componentes da
Mesa.) Eu falo em nome dos dez Vereadores da Bancada do Partido dos
Trabalhadores. Eu sei que o Ver. Lauro Hagemann está inscrito para falar e
gostaria muito de falar pelo PPS, mas, como ele está com problemas e talvez não
possa chegar a tempo, eu estou também representando o Ver. Lauro Hagemann.
Ouvindo a homenagem proposta pelos Vereadores desta Casa por
unanimidade e também, em especial, por iniciativa do Ver. Antonio Hohlfeldt,
nós não poderíamos deixar de participar mesmo que de forma mais modesta, porque
quem sabe falar dessas coisas com intimidade e sabedoria, com tudo aquilo que
se ouviu, é o próprio proponente da homenagem, o Ver. Antonio Hohlfeldt, que
também é escritor e que também é um dos nossos principais representantes nessa
área.
Vou abordar, se o Sr. Bertaso permitir, um outro ângulo além daquele
que já foi muito bem colocado pelo Ver. Antonio Hohlfeldt. Ele falou sobre a
obra, sobre os escritos, sobre as edições, sobre a forma de trabalhar. Eu
queria estender essa homenagem ao Sr. José Otávio Bertaso, à família Bertaso e
à família Globo. Queria pedir licença para isso, porque nós, realmente, nos
emocionamos quando pensamos nesse aspecto de grandiosidade, do que representa
para nós esse patrimônio cultural, mas também um patrimônio político da
democracia no nosso País e um patrimônio de Porto Alegre, do Rio Grande do Sul.
Para nós é fundamental que também se diga o quanto nós admiramos essa
organização, o que ela representou, está representando e vai representar sempre
para as gerações de pessoas neste Estado e no País não só porque os escritores
famosos, como Mário Quintana, Érico Veríssimo, Luis Fernando e outros, são
editados, como escritores estrangeiros são traduzidos, mas pelo que nós
conhecemos da democracia dessa organização.
Gostaria de dizer ao escritor, ao editor, ao diretor da nossa Globo
Livraria que, por várias oportunidades, tivemos a condição de verificar
"in loco" o quanto a editora é aberta, e sempre tem sido, como a
proposta da democracia. Claro que o "Incidente em Antares", em 1971,
com a tarja vermelha - como medicamento, só pode ser usado com receita médica,
receita da Globo; na verdade, foi usado e não houve contestação do regime, que
não deixava passar nada. Mas, além disso, nós já, em várias oportunidades de
campanhas eleitorais, tivemos condições de entrar nos prédios da Globo,
principalmente nas oficinas, e a Globo autorizar que, fosse qual fosse o
partido ou candidato que estivesse nos seus sete andares, quando era aqui, na
Av. Getúlio Vargas, se fizessem conversas, discussões com os funcionários da
forma mais transparente, aberta e tranqüila. Isso não se faria se a direção não
tivesse uma visão democrática, não tivesse essa visão de abertura para que
todos tivessem a oportunidade de ali expor as suas idéias. E isso não estaria
prejudicando o trabalho da empresa, não estaria tirando tempo de produção, como
muitos alegam. Pelo contrário, estava dando condições ao crescimento da
cidadania daqueles cidadãos que fazem o trabalho do dia-a-dia da produção
literária no nosso Estado e no mundo, que a Editora Globo, com tanta sabedoria,
tem feito.
Nós deixamos aqui, Sr. José Otávio, o nosso abraço em nome do Partido
dos Trabalhadores, agora também em nome de Lauro Hagemann, do PPS, e queremos
dizer que para nós é uma honra muito grande tê-lo como um dos premiados pela
Câmara Municipal com esse Prêmio Literário Érico Veríssimo. Muito obrigado. Um
abraço a todos os seus familiares e à família maior, que é a família Globo.
Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver.
Reginaldo Pujol, que falará em nome das Bancadas do PFL e PPR.
O SR. REGINALDO PUJOL: Sr. Presidente, Srs.
Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa.) Evidentemente que, como muito bem
acertou o Ver. Clovis Ilgenfritz, não há ninguém mais indicado para se
manifestar em solenidades como esta do que aquelas pessoas que tiveram a
felicidade, a sensibilidade e, sobretudo, a inteligência de flagrar um fato
social que a lei envolve na medida em que as premiações que esta Casa faz com o
Prêmio Literário Érico Veríssimo depende, principalmente, da sensibilidade
aguçada, a maior ou a menor, de determinados integrantes desta Casa que fazem
as indicações que, pela sua relevância, são acolhidas ou não pelo Plenário da
Casa.
Nesse sentido, o Ver. Antonio Hohlfeldt, por tudo o que é, por tudo o
que pensa e até mesmo pela convivência, confessável da tribuna em seu
pronunciamento, era a mais indicada das pessoas a fazer a indicação através do
Projeto de Lei que, desde logo, foi escolhido por todos os segmentos políticos
da Casa para, logo depois, ainda em 1994, se transformar na lei que outorga a
distinção que hoje se transfere ao homenageado. Pessoalmente, tenho -
juntamente com o Ver. João Dib, meu companheiro de bancada, na medida em que a
partilhamos diariamente - sustentando que nestas ocasiões o mais indicado seria
que o orador fosse exatamente o autor intelectual da homenagem, porque, como
dizia o Ver. Clovis Ilgenfritz, a ele sobram entusiasmo, conhecimento,
sensibilidade para transformar em palavras o sentimento da Casa. Mas, seguindo
uma praxe regimental, em nome do Partido da Frente Liberal e do Partido
Progressista Reformador, que está aqui presente na figura deste ilustre
Vereador que é Pedro Américo Leal, me faço ouvir nesta hora não só para cumprir
a disposição regimental, mas para deixar claro que estas duas agremiações
políticas se associam por inteiro às homenagens que são prestadas a José
D’Ávila Bertaso no dia de hoje, e que não só contribuíram com o seu voto, com
seu apoio, mas querem também se integrar, com o seu aplauso, à feliz iniciativa
do Ver. Antonio Hohlfeldt.
Evidente que, ao se cogitar uma homenagem como esta e depois de termos
ouvido tão aprofundados pronunciamentos, restaria nos socorrer, caro
homenageado, de uma figura veneranda das letras e da cultura do Estado que,
lamentavelmente, a Editora Globo não escreveu seus pensamentos na medida em que
ele era avesso à escrita, eis que flamante e vibrante orador. Lembro-me de
Armando Câmara, um dos maiores filósofos, um dos maiores homens de pensamento
do Rio Grande do Sul, que muito cedo me transferia uma noção filosófica sobre o
valor que aprendi e confirmei ao longo da vida.
Dizia Armando Câmara que o valor é o dinamismo da conformidade do ser
com seus fins. Evidentemente que esta lição filosófica de Armando Câmara eu
quero transferi-la para o dia de hoje, eis que, quando nós entregamos a um
integrante da família Bertaso o Prêmio Literário Érico Veríssimo, nós não
estamos fazendo outra coisa senão adequar o conceito de valor. Porque todo o
valor reconhecido à obra de Érico Veríssimo está intimamente vinculado ao valor
da obra empresarial e cultural da Editora Globo e de seus integrantes, que
ousaram apostar no nosso maior representante das letras gaúchas dos tempos
modernos, que evidentemente se fez conhecer no País e, mais do que no País,
fora dele, pela sensibilidade com que na Editora Globo a sua figura, o seu
pensamento, o seu conhecimento, os seus escritos foram agasalhados. Hoje, pela
iniciativa do Ver. Antonio Hohlfeldt, a Casa do Povo de Porto Alegre transfere
a José Otávio Bertaso o Prêmio Literário Érico Veríssimo e, neste momento, faz
o ajuste da conformidade do ser homenagem com o fim: o homenageado. Nesse
sentido, venho à tribuna para dizer que tenho um privilégio muito grande, uma
honra bastante avantajada em poder participar deste momento como leitor das
obras editadas pela Globo, como pessoa que, desde minha meninice, na minha
longínqua Quaraí, me acostumava a ler, pelo menos, o Almanaque da Globo.
Aprendi, ao longo do tempo, que a Globo é parte da história do Rio Grande
do Sul e, mais do que história do Rio Grande do Sul, é parte da história desta
Cidade. Lembra o Ver. Antonio Hohlfeldt, na sua Exposição de Motivos, alguns
aspectos da figura do nosso ilustre Bertaso, hoje homenageado. Lembra,
inclusive, do manifesto que, junto com Jorge Amado e outros brasileiros, entre
os quais Érico Veríssimo, assinou em prol da anticandidatura emedebista à
Presidência da República.
Lembro de uma tarde em que fui chamado por meus colegas, no ano de
1963, para ir até a Livraria do Globo, onde, pela primeira vez, num gesto
revolucionário, estava impressa, em letras facilmente legíveis por nós todos,
uma carta de Érico Veríssimo dirigida ao então jovem Deputado socialista
Cândido Norberto, oferecendo o seu apoio à candidatura à Prefeitura de Porto
Alegre. Era a Globo mais uma vez se vinculando a sua Cidade.
Então, esta Cidade, a quem sua empresa, a empresa dos seus familiares,
tanto se vincula, lhe devia esta homenagem. Pela iniciativa feliz do Ver.
Antonio Hohlfeldt, ela, em parte, salda este débito no dia de hoje. Sabe que
para o senhor isto representará um fato muito carinhoso: o senhor levar para a
sua residência, junto com a sua esposa, junto a seus familiares, um prêmio que
leva o nome daquela pessoa a quem o senhor tanto quis bem, com a qual tanto
confraternizou - o seu particular amigo Érico Veríssimo. O senhor recebe hoje,
com justiça, o Prêmio Érico Veríssimo, e a Cidade de Porto Alegre se sente
orgulhosa de poder destacar um dos seus mais ilustres colaboradores no
desenvolvimento cultural que tem vivido ao longo dos tempos.
À nossa querida Globo, à família da Globo, que todos homenagearam, o
nosso abraço fraternal. A sua família, que nunca lhe faltou nas suas jornadas
empresariais, culturais, administrativas e econômicas, também se sinta por nós
homenageada. Que esse prêmio hoje recebido seja dividido com todos eles, porque
esse é o nosso desejo. Meus cumprimentos e as nossas homenagens.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Vereadores, Srs.
Convidados, eu peço licença para fugir um pouco do protocolo. Nós vamos
conceder a palavra ao Jornalista Firmino Cardoso.
O SR. FIRMINO CARDOSO: Sr. Presidente, Srs.
Vereadores. (Saúda os componentes da
Mesa.) Minhas Senhoras, meus Senhores. Esta Sessão Solene, Sr. Presidente,
toca-me a sensibilidade, fazendo espargir expressões de regozijo pela merecida
homenagem que o Legislativo da nossa Capital presta a José Otávio D’Ávila
Bertaso na outorga do Prêmio Érico Veríssimo.
Emocionado, recordo aqueles poucos anos lá, pela longínqua década de
40, quando, funcionário da Editora Globo, filial da tradicional Livraria do
Globo, fui secretário e auxiliar direto do saudoso Henrique Bertaso, pai do
nosso homenageado de hoje. Naquele período já distante, quando a neve do tempo
longe andava de meus cabelos, tive também a aventura de conviver com Érico
Veríssimo, nosso romancista maior de então, e de experimentar cotidianamente
aquela atmosfera de cultura literária com a presença, no velho casarão da Rua
da Praia, de escritores, políticos, poetas e artistas, todos expoentes da
inteligência do Rio Grande do Sul. E assim, com essa mensagem de emoção e de
saudade de uma época já recuada no tempo, ainda hoje aqui estou por mercê do
Altíssimo para apresentar à Câmara Municipal de Porto Alegre, na pessoa do seu
ilustre Presidente, Ver. Airto Ferronato, ao proponente de tão justa homenagem,
meu colega e amigo Ver. Antonio Hohlfeldt, e aos Vereadores, as congratulações
da Associação Riograndense de Imprensa, que tenho a honra de representar por
delegação do Presidente Antonio Gonzales, e de transmitir ao Sr. José Otávio
D’Ávila Bertaso, em nome da Casa do Jornalista e do Presidente do seu Conselho
Deliberativo, Prof. Alberto André, os mais calorosos cumprimentos pelo prêmio
que acaba de receber. Muito obrigado. (Palmas.)
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Nós vamos convidar o Ver.
Antonio Hohlfeldt para proceder à entrega do Prêmio Literário Érico Veríssimo
ao homenageado.
(É feita a
entrega do Prêmio.)
Nós vamos conceder a palavra à Sra. Edda de Escobar Bertaso, esposa do
nosso homenageado, que falará em nome dele.
A SRA. EDDA BERTASO: Sr. Presidente, Srs.
Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa.)
(Lê.)
"Ao agradecer a generosa indicação de meu nome, feita pelo Ver.
Antonio Hohlfeldt, para receber o Prêmio Literário Érico Veríssimo de 1995, bem
como a concordância dos demais membros desta Casa em me atribuírem esse prêmio,
desejo afirmar aos senhores que me sinto muito honrado principalmente pelo fato
de ter conhecido o patrono, o escritor Érico Veríssimo, desde a minha infância,
e por ter convivido com ele até o final de sua vida.
O relacionamento que se desenvolveu entre meu pai, Henrique Bertaso, e
Érico Veríssimo, e entre nossas famílias, é um dos mais belos exemplos de como
duas pessoas, sem terem o mínimo laço de parentesco, podem conciliar trabalho e
amizade. Talvez, exatamente por esse motivo, puderam, como colegas de trabalho
e amigos, perseguir por tantos anos o mesmo objetivo: transformar Porto Alegre
num pólo cultural e, daqui, irradiar cultura para o resto do Brasil.
Refiro-me à criação da Seção Editora da Livraria do Globo, que a partir
de 1930 começou a publicar e distribuir de uma forma pioneira livros para todos
os recantos, por mais longínquos que fossem.
Procurem imaginar Porto Alegre, uma pacata capital provinciana, há 65
anos atrás. A Cidade já possuía emissoras de rádios, jornais, cinemas, teatros,
casas de jogos de azar e diversas livrarias. Uma delas, na rua principal,
chamava-se Livraria do Globo e fora fundada em 1883 - portanto, há 112 anos
atrás - por Laudelino Pinheiro de Barcellos.
Nove anos depois, meu avô José Bertaso, trazido pelas mãos da sua
professora, Dona Arminda, prima de Laudelino, ingressou na empresa com apenas
doze anos de idade. Diariamente, sua primeira tarefa, já que dormia num pequeno
quarto nos fundos do prédio da livraria, era a de abrir as portas do
estabelecimento, empunhar uma vassoura e varrer a loja, espalhando água e
creolina no assoalho. Duas décadas mais tarde, já havia se tornado o braço direito
do fundador da empresa e responsável pelo desenvolvimento e ampliação de todos
os setores da Casa, tornando-a, no princípio da década de 20, a principal
livraria gráfica do Estado.
Sabidamente, onde existe uma gráfica, pode-se imprimir cartões de
visita, participações de casamentos, livros e até revistas. Em 1928, atendendo
uma sugestão do então Presidente do Estado, Getúlio Vargas, José Bertaso
resolveu fundar uma revista e para dirigi-la escolheu Mansueto Bernardi, que
tinha sob seus cuidados o setor de livros da Casa e da edição bissexta de obras
de autores gaúchos.
Resumindo a história, antes de se desligar da Livraria do Globo,
Mansueto Bernardi escolheu Érico Veríssimo para substituí-lo na direção da
'Revista do Globo'. Na mesma ocasião, meu pai conseguiu convencer José Bertaso
a desenvolver as atividades editoriais da Livraria do Globo de uma forma mais
organizada.
Não pretendo me perder em minúcias, que, por certo, tirariam o prazer
daqueles que ainda não leram 'A Globo da Rua da Praia'. Vou-me permitir,
tão-somente, dizer que, a partir do momento em que meu pai conheceu Érico
Veríssimo, percebeu a tremenda capacidade prática e objetiva.
Os dois amigos descobriram que escolher livros para serem publicados
não era muito difícil. O problema era vendê-los. O produto que tinham nas mãos
não era comestível e nem servia para curar tosse ou resfriado. Além disso, o
número de livrarias, na época, podia ser contado nos dedos. E que livreiro iria
se atrever a comprar mais de dois exemplares para vender a possíveis
interessados? Pois foi na inventividade de Henrique Bertaso e Érico Veríssimo,
e com sugestões colhidas em publicações estrangeiras especializadas no assunto,
que o problema da distribuição e vendagem dos livros publicados pela Livraria
do Globo foi resolvido. Com o auxílio de estantes encimadas com os dizeres
'Edições da Livraria do Globo', centenas de móveis foram fabricados na
marcenaria da empresa e distribuídos em consignação, com um mostruário completo
das edições da Casa, não só às poucas livrarias existentes no Brasil, mas a
outros estabelecimentos comerciais. Os livros eram faturados aos comerciantes
somente depois de terem sido vendidos e, automaticamente, era feita a reposição
do estoque, acrescida das novidades. O ineditismo desse processo de
distribuição de livros tornou, com o passar dos anos, a Livraria do Globo uma
das mais importantes casas editoriais do Brasil.
Não me foi muito difícil, pois, escrever 'A Globo da Rua da Praia'. A
história da personagem principal é fascinante. Mais empolgante ainda é a
história da bravura e do denodo daqueles que transformaram as Edições Globo,
tanto no campo literário como na área das enciclopédias, dicionários, livros
didáticos e técnicos, numa marca respeitável.
Lembro que, quando Érico Veríssimo passou a se dedicar exclusivamente a
escrever seus livros, comecei a visitá-lo semanalmente não só para pô-lo a par
do andamento de nossas edições como também para lhe informar sobre a vendagem
de suas obras. Ele acolhia com muita receptividade nossas idéias de
'marketing', como, por exemplo, a de, paralelamente à comercialização normal de
suas obras, lançarmos alguns textos em edições de bolso numa série
paradidática.
Entre os diversos títulos que nos sugeriu para publicarmos então, cito
'A Pane', de Friedrich Dürrenmatt, 'O General está Pintando', de Hemilo Borba
Filho, 'A Nau dos Insensatos', de Katherine Anne Porter, 'O Zero e o Infinito',
de Arthur Koestler, excelentemente traduzido por Juvenal Jacinto, e 'Numa Terra
Estranha', de James Baldwin.
Com relação a esse último, há um episódio bastante pitoresco ocorrido
com o tradutor e que envolveu Érico Veríssimo. Quando nos entregou a tradução,
fez três pedidos: o primeiro foi que, em vista da linguagem e das situações
escandalosas de 'Numa Terra Estranha', não desejava que seu nome constasse como
tradutor. A segunda exigência era que sua prima, uma muito antiga e eficiente
revisora da Casa, não tivesse acesso aos paquês e nem às provas de página. A
terceira foi que, em vista das expressões cabeludas de Baldwin, uma outra
pessoa opinasse sobre a tradução. Foi nessa ocasião que, com a presença do
Érico Veríssimo e do tradutor, passamos momentos hilariantes, adequando os
palavrões do autor à língua portuguesa.
Outra situação que muito bem me recordo ocorreu por ocasião do
lançamento de 'Incidente em Antares'. Estávamos no ano de 1971, em plena
vigência do regime militar. Como já tínhamos enfrentado problemas com a censura
durante a ditadura Vargas com a apreensão de 'Fronteira Agreste', de Ivan Pedro
Martins, sugeri a Érico Veríssimo que produzíssemos um cartaz anunciando o
livro com os seguintes dizeres: 'Num país totalitário este livro seria
proibido'. Érico se divertiu muito com a idéia e aprovou-a.
Um outro episódio envolvendo a censura aconteceu pouco tempo depois da
publicação de 'Incidente em Antares'. Fomos visitados pelo Superintendente da
Polícia Federal do Estado, que nos solicitou que não publicássemos 'Tambores
Silenciosos', de Josué Guimarães, saudoso membro desta Casa. A solicitação fora
expedida de Brasília, indicando que a obra de Guimarães, detentora do primeiro
Prêmio Érico Veríssimo de Literatura da Editora Globo, havia sido denunciada
como subversiva. Informamos à Polícia Federal que não iríamos interromper a
produção do livro e que, se após a publicação, quisessem apreendê-lo, que o
fizessem. A divulgação dessa suspeita foi muito bem explorada por Josué
Guimarães e o lançamento de seu livro foi um estrondoso sucesso.
Ao renovar os meus agradecimentos à Câmara de Vereadores de Porto
Alegre, em especial ao Ver. Antonio Hohlfeldt pela iniciativa de propor o meu
nome para receber o Prêmio Literário Érico Veríssimo, desejo apontá-lo como
representante de todos os intelectuais que colaboraram conosco desde o início
de nossas atividades editoriais até a data em que a Editora Globo foi vendida
às Organizações Globo, como entre os muitos que ajudaram a Casa a crescer,
transformando a marca Globo num símbolo de qualidade editorial, não só no
Brasil como no Exterior. Muito obrigado."
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Senhoras e Senhores, em
nome da Mesa Diretora dos trabalhos da Câmara Municipal de Porto Alegre, em meu
nome particular e em nome dos Srs. Vereadores, nós queremos, mais uma vez,
dizer da nossa satisfação de ter tido essa oportunidade de presidir esta nossa
Sessão Solene, registrando, no Plenário, a presença do Ver. Artur Zanella.
Encerramos os nossos trabalhos. Registramos e agradecemos a presença de
todos e, mais uma vez, meus parabéns ao nosso homenageado, que recebe o Prêmio
Literário Érico Veríssimo, Sr. José Otávio D’Ávila Bertaso, e à sua esposa.
Obrigado pela presença de todos. Boa noite.
(Encerra-se a Sessão às 18h25min.)
* * * * *